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Djalma Corrêa é um mestre da percussão. Basta ouvi-lo, seja em meio ao seu arsenal de incontáveis instrumentos recolhidos pelo mundo ou construídos por ele mesmo, seja simplesmente tocando panela. Ele participou de movimentos musicais memoráveis, deu a volta ao mundo se apresentando ao lado de outros grandes músicos brasileiros, como Paulo Moura, Gilberto Gil, Caetano Veloso, e participou de gravações históricas da nossa discografia. Sua percussão abriu novos caminhos na música popular brasileira. Todo o trabalho de Djalma é fortemente marcado por uma constante pesquisa da diversidade musical encontrada nas tradições populares por todo o Brasil. 
 

Nascido em Ouro Preto, em 1942, Djalma foi ainda adolescente para Salvador, na Bahia, onde estudou música nos Seminários Livres comandados por Hans-Joachim Koellreutter, alemão exilado no Brasil na época da Segunda Guerra, o grande mestre do experimentalismo musical, que marcou a formação de músicos brasileiros de pelo menos 3 gerações. Na Bahia, Djalma participou de toda a efervescência cultural dos anos 50-70 em Salvador, ao lado de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Glauber Rocha, João Gilberto, Emanuel Araújo, entre outros. Trabalhou com Walter Smetak, músico suíço inventor de instrumentos, e estudou música eletro-acústica. 

Do estudo da música eletro-acústica, ele passou a técnico responsável, nos Seminários Livres, pela gravação dos concertos e espetáculos. E foi assim, após adquirir competência técnica para documentar o som, com qualidade profissional, e após despertar-se para a riqueza das expressões populares, numa época em que o interesse pelo popular e a pesquisa nesse campo eram ainda novidade, que Djalma decidiu sair em viagem pelo Brasil a fim de documentar em som e imagem a diversidade da percussão brasileira. 

  
Esse interesse levou Djalma a um esforço de pesquisa e de documentação cujo resultado foi a constituição de um impressionante acervo de documentos das tradições populares brasileiras e da MPB. Seus primeiros trabalhos de pesquisa e documentação se deram ainda em Salvador, na década de 1970, quando Djalma se internou em diversos terreiros de candomblé, ao lado dos alabês (tocadores dos atabaques sagrados) mais virtuosos da cidade, como, por exemplo, Vadinho, da casa de Mãe Menininha do Gantois. Dentre as diversas manifestações que Djalma pesquisou e documentou daí em diante, estão, por exemplo: Aboios, Coco de Embolada, Banda Cabaçal, Puxada do Xeréu, Samba de Roda, Tambor de Índio, Tambor de Mina, Capoeira, Nau Catarineta. 

Ao lado desses e de outros vários temas das tradições populares brasileiras, há no acervo Djalma Corrêa várias gravações de shows da MPB, documentação de festivais e encontros, bem como documentos recolhidos em vários países da Europa, África e Américas, ou no Japão – registros que Djalma fez durante turnês de que participava.  

Esse riquíssimo acervo cumpriu uma importante função no trabalho musical de Djalma. “Venho, desde 1960, registrando as mais diversas manifestações da cultura popular brasileira do Oiapoque ao Chuí (...) tambores, vozes, timbres e cores que mesclam-se nesta panela percussiva revelando os temperos de uma cozinha tipicamente brasileira (...) Fiz registros também em países da África, Europa, Ásia, América Latina e Caribe, em fotos, filmes e fitas magnéticas (...) Procurava fazer releituras contemporâneas deste tão diversificado acervo, partindo do som original que registrei quer seja num terreiro da Bahia ou num templo budista japonês, do toque e canto indígena ao polirrítmico tambor africano, dos múltiplos sotaques do samba brasileiro às formas primeiras do Zé Pereira português, das células rítmicas do agogô ao repique dos sinos nas torres das igrejas (...)” (Depoimento de Djalma Corrêa à Balafon, em 23 de julho de 2008). 

Nossa tarefa principal é a organização e disponibilização deste acervo, que contém documentos preciosos, especialmente sobre a memória musical brasileira. 

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