Release | João Pessoa | |||
RETROSPECTIVA DE JEAN ROUCH, COM A EXIBIÇÃO DE 37 FILMES NO ESPAÇO CULTURAL JOSÉ LINS DO REGO A obra do cineasta-antropólogo francês famoso por seu trabalho sobre povos africanos pode ser vista em João Pessoa e mais seis capitais brasileiras O cineasta-antropólogo francês Jean Rouch, autor da obra mais importante de todos os tempos no campo do filme etnográfico, ganhou no ano de 2009 - ANO DA FRANÇA NO BRASIL - sua maior retrospectiva no país – comparável apenas à realizada pela Cinemateca Francesa, em 1999. Pesquisadores e cinéfilos brasileiros tiveram a oportunidade de assistir a todos os filmes do autor em condições de serem exibidos e participar de colóquios bastante enriquecedores sobre sua obra, sua relação com a antropologia e com a linguagem cinematográfica. 91 filmes foram exibidos e debatidos por pesquisadores de renome internacional nas cidades de São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Brasília. No intuito de levar a um público maior esta obra essencial para a construção do cinema etnográfico, a Associação Balafon (proponente do projeto), com o patrocínio da Secretaria do Audiovisual e o Ministério da Cultura, estendeu a retrospectiva para mais 07 capitais brasileiras, dentre elas João Pessoa. Com parceria local da UFPB, o Espaço Cultural José Lins do Rego exibe, entre os dias 11 e 18 de abril, filmes do grande documentarista francês. Curtas-metragens e produções raras – a maioria inédita no Brasil – serão exibidos ao lado de clássicos do cineasta, como A Pirâmide Humana, Pouco a Pouco e Jaguar. Sob a curadoria de Mateus Araújo Silva, o atual ciclo é uma versão reduzida da mostra de 2009. Com um conjunto de 36 filmes, divididos em 17 programas (veja programação completa em anexo), Mateus delimitou um recorte mais conciso, mas não menos representativo da obra e do itinerário de Rouch nos aspectos temáticos, geográficos e nos valores estéticos. Segundo Mateus “Se muitos sabiam que Rouch é um cineasta fundamental e um africanista importante, pouquíssimos haviam tido um contato direto e efetivo com o conjunto de sua obra. Seus escritos numerosos ainda esperavam a iniciativa de editores audazes para serem traduzidos entre nós, e sua vasta filmografia ainda esperava uma retrospectiva mais ampla”. O que torna a iniciativa da mostra em 2009 e seus desdobramentos – itinerância, lançamento do catálogo e do site - fundamental para o enriquecimento da nossa cultura cinematográfica. Sobre Jean Rouch
Seus filmes influenciaram a geração de cineastas da Nouvelle Vague e nos anos 60, ele fez parte de uma vertente do documentário que ficou conhecida como "cinema verdade". Sua obra, diversas vezes premiada em Veneza, Cannes e Berlim, se compõe de documentários etnográficos (Os Mestres Loucos e Sigui síntese), sociológicos (Crônica de um Verão) e ficções (Eu, um Negro e Cocorico, Monsieur Poulet). Rouch inovou técnica, ética
e esteticamente. Procurou tratar seus personagens como sujeitos e não
apenas objetos do discurso fílmico. Na sua visão, o desejo
de investigação do filme etnográfico oferece um ponto
de convergência entre a subjetividade do criador e a objetividade
do pesquisador – ou, de outro modo, entre arte e ciência. Em oposição
a mestres da antropologia como Claude Lévi-Strauss (para quem o
registro cinematográfico era “como um caderno de notas, que não
deveria ser publicado”), Rouch entendia o documentário etnográfico
como uma forma de estabelecer um diálogo com o sujeito do seu estudo,
em vez de apenas descrevê-lo. Esta mudança de paradigma seria,
para Rouch, uma maneira de contribuir para que a antropologia deixasse
de ser “a filha mais velha do colonialismo”.
Mateus Araújo Silva - Organizador, com Andrea Paganini e Juliana Araújo, das Retrospectivas e dos Colóquios Jean Rouch em 2009, Mateus Araújo Silva é Doutor em Filosofia pela Université de Paris I (Sorbonne) e pela Universidade Federal de Minas Gerais (com uma tese sobre o problema da imaginação em Descartes), ensaísta de cinema e tradutor. Publicou estudos filosóficos sobre Platão, Aristóteles, Descartes e Adorno, e ensaios críticos sobre o cinema de Humberto Mauro, Glauber Rocha, Jean-Luc Godard, Alain Resnais, Manoel de Oliveira, Serguei Paradjanov, Federico Fellini, Carmelo Bene, Jean-Marie Straub & Danièle Huillet, Pedro Costa e o pensamento de Ismail Xavier e Jean-Claude Bernardet, entre outros. Co-organizou o volume coletivo francês Glauber Rocha / Nelson Rodrigues (Magic Cinéma, 2005), um número especial da revista Devires (UFMG) sobre Jean Rouch (Vol.6, n.1, 2009) e traduziu Glauber Rocha na França (Le Siècle du Cinéma, 2006), onde vive e trabalha desde 1998. Sobre a Instituição Proponente ASSOCIAÇÃO BALAFON
. Fundada em 2004, sediada em Belo Horizonte, dirigida pelo eminente percussionista
Djalma Correa e pela professora e pesquisadora Juliana Araújo, a
Associação Balafon vem desenvolvendo projetos sobre a cultura
brasileira, seu patrimônio e seus diálogos, dos sinos das
Minas Gerais à sua Estrada Real, dos acervos da nossa música
popular às manifestações cinematográficas que
dialogam com as nossas.
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