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Release | Recife
  
RETROSPECTIVA DE JEAN ROUCH, COM A EXIBIÇÃO DE 37 FILMES NA FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO  
  
A obra do cineasta-antropólogo francês, famoso por seu trabalho sobre povos africanos, poderá ser vista em RECIFE, entre 14 e 23 de maio, após ser exibida em outras capitais brasileiras  
  
O cineasta-antropólogo francês Jean Rouch, o mais importante realizador no campo do filme etnográfico, ganhou no ano de 2009 (“Ano da França no Brasil”) sua maior retrospectiva no País, comparável apenas à realizada pela Cinemateca Francesa, em 1999. À ocasião, pesquisadores e cinéfilos brasileiros tiveram a oportunidade de assistir à vasta obra de Rouch e participar de colóquios sobre seu legado, sua relação com a antropologia e com a linguagem cinematográfica. Em seu formato original, a retrospectiva presenteou o público de São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Brasília com a exibição de 91 filmes. 

No intuito de possibilitar que espectadores de outros centros entrem em contato com esta obra, considerada uma das mais relevantes da sétima arte no século XX, a Associação Balafon (responsável pelo projeto), com o patrocínio da Secretaria do Audiovisual e o Ministério da Cultura, estendeu a retrospectiva para mais 06 capitais brasileiras, dentre elas Recife. A versão pernambucana da mostra conta com a organização local da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), através do curso de Bacharelado em Cinema, e a parceria da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e da Aliança Francesa. 

Entre os dias 14 e 23 de maio, portanto, as salas da Fundaj exibirão gratuitamente 37 filmes do grande documentarista francês, entre longas e curtas, a maioria inédita no Brasil. Oportunidade única para o público conferir títulos importantes como “A Pirâmide Humana”, “Pouco a Pouco”, “Crônica de um Verão”, “Eu, Um Negro” e “Jaguar”, além de outras obras menos conhecidas, mas igualmente fundamentais à trajetória de Rouch. 

Sob a curadoria do mineiro Mateus Araújo Silva, o atual ciclo é uma versão reduzida da mostra de 2009. Para tanto, Mateus delimitou um recorte conciso, mas não menos representativo da obra e do itinerário de Rouch nos aspectos temáticos, geográficos e nos valores estéticos: um conjunto de 37 filmes, divididos em 17 programas (veja programação completa em outro arquivo). “Se muitos sabiam que Rouch é um cineasta fundamental e um africanista importante, pouquíssimos haviam tido um contato direto e efetivo com o conjunto de sua obra. Sua vasta filmografia, que aguardava uma retrospectiva ampla, agora é devidamente resgatada. Seus escritos numerosos, porém, ainda esperam a iniciativa de editores audazes para serem traduzidos entre nós”, destaca o curador. Razão suficiente para reconhecermos a importância da Mostra, tanto em sua versão integral quanto em seu novo formato, para a nossa cultura cinematográfica. 

Sobre Jean Rouch 
Cineasta de mais de cem filmes e antropólogo de extensa obra escrita, Jean Rouch (1917-2004) atravessou o século como se vivesse sete vidas cheias de facetas e paradoxos. Ele foi ao mesmo tempo eminência parda do cinema francês moderno, antropólogo africanista com Doutorado defendido na Sorbonne em 1952 sobre os Songhay, pesquisador do CNRS por anos a fio e autor da obra mais importante de todos os tempos no campo do filme etnográfico. Como objeto privilegiado do seu trabalho, elegeu alguns países da África Ocidental (sobretudo Níger e Mali, mas também Costa do Marfim e Gana), dos quais nos deixou um acervo de imagens e sons sem paralelo. Mas também filmou muito na França e noutros países, revelando sempre, por onde tenha andado, curiosidade pelas diversas culturas e vontade de compreendê-las. 

Seus filmes influenciaram a geração de cineastas da Nouvelle Vague e nos anos 60, ele fez parte de uma vertente do documentário que ficou conhecida como "cinema verdade". Sua obra, diversas vezes premiada em Veneza, Cannes e Berlim, se compõe de documentários etnográficos (Os Mestres Loucos e Sigui sintese), sociológicos (Crônica de um Verão) e ficções (Eu, um Negro e Cocorico, Monsieur Poulet). 

Rouch inovou técnica, ética e esteticamente. Procurou tratar seus personagens como sujeitos e não apenas objetos do discurso fílmico. Na sua visão, o desejo de investigação do filme etnográfico oferece um ponto de convergência entre a subjetividade do criador e a objetividade do pesquisador – ou, de outro modo, entre arte e ciência. ?Em oposição a mestres da antropologia como Claude Lévi-Strauss (para quem o registro cinematográfico era “como um caderno de notas, que não deveria ser publicado”), Rouch entendia o documentário etnográfico como uma forma de estabelecer um diálogo com o sujeito do seu estudo, em vez de apenas descrevê-lo. Esta mudança de paradigma seria, para Rouch, uma maneira de contribuir para que a antropologia deixasse de ser “a filha mais velha do colonialismo”.  

COMENTÁRIO 

“O clichê sobre Jean Rouch (1917 - 2004) é saudá-lo como um dos pioneiros do cinema-verdade, vertente que inovou o documentário mundial na virada dos anos de 1960, alicerçada pelo desenvolvimento das tecnologias portáteis de captação e por um impulso estético original. Embora sua influência neste domínio seja incontestável, creio que o epíteto me parece inadequado para delimitar a complexidade de sua arte. A exemplo de outros gênios de igual magnitude, Rouch foi um realizador cujo ímpeto criativo exerceu influência em tradições diversas da sétima arte: a nouvelle vague, os cinemas novos, o documentário ocidental e o filme etnográfico lhe são debitários. 

Todavia, apesar da relevância inconteste, é curioso assinalar que o enlace do francês com as câmeras não foi imediato, espécie de vocação congênita. Graduado em engenharia, Rouch descobre, durante uma de suas missões na África Francesa, que seu interesse pela etnologia é superior, em muito, à companhia dos esquadros e pranchetas. E, sob influência de Marcel Griaulle, um dos pioneiros da antropologia fílmica, descobre o poder de evocação das imagens. A migração para o cinema, no entanto, constitui apenas um dos enigmas desta biografia fascinante. 

No entanto, mais pertinente do que discorrer sobre a trajetória do criador, é poder conferir e avaliar seu legado artístico, uma fecunda produção que, infelizmente, permanecia inédita ao público brasileiro em sua maior parte. Neste sentido, além de um acerto de contas com a memória do cineasta, a retrospectiva Jean Rouch, constitui uma oportunidade singular para os pernambucanos, cinéfilos ou não, testemunharem a afirmação/consagração de um dos talentos mais relevantes da sétima arte no século XX”. 

Laécio Ricardo 
Professor do Bacharelado em Cinema da UFPE e um dos organizadores da mostra 
  

Sobre o curador Mateus Araújo Silva - Organizador, com Andrea Paganini e Juliana Araújo, das Retrospectivas e dos Colóquios Jean Rouch em 2009, Mateus Araújo Silva é Doutor em Filosofia pela Université de Paris I (Sorbonne) e pela Universidade Federal de Minas Gerais (com uma tese sobre o problema da imaginação em Descartes), ensaísta de cinema e tradutor. Publicou estudos filosóficos sobre Platão, Aristóteles, Descartes e Adorno, e ensaios críticos sobre o cinema de Humberto Mauro, Glauber Rocha, Jean-Luc Godard, Alain Resnais, Manoel de Oliveira, Serguei Paradjanov, Federico Fellini, Carmelo Bene, Jean-Marie Straub & Danièle Huillet, Pedro Costa e o pensamento de Ismail Xavier e Jean-Claude Bernardet, entre outros. Co-organizou o volume coletivo francês Glauber Rocha / Nelson Rodrigues (Magic Cinéma, 2005), um número especial da revista Devires (UFMG) sobre Jean Rouch (Vol.6, n.1, 2009) e traduziu Glauber Rocha na França (Le Siècle du Cinéma, 2006), onde vive e trabalha desde 1998.  

Sobre a instituição responsável pelo projeto 
ASSOCIAÇÃO BALAFON . Fundada em 2004, sediada em Belo Horizonte, dirigida pelo percussionista Djalma Correa e pela professora e pesquisadora Juliana Araújo, a Associação Balafon vem desenvolvendo projetos sobre a cultura brasileira, seu patrimônio e seus diálogos, dos sinos das Minas Gerais à sua Estrada Real, dos acervos da nossa música popular às manifestações cinematográficas que dialogam com as nossas. Informações adicionais: http://www.balafon.org.br 

SERVIÇO
 
“Mostra Jean Rouch” em Recife – de 14 a 23 de abril, em horários variados, com cópias em DVD legendadas, na Fundação Joaquim Nabuco – Rua Henrique Dias, 609, Derby. Entrada franca. Confirmar programação previamente: telefone 3073-6689 e e-mail: cinema@fundaj.gov.br. 
 
CONTATOS 

Mateus Silva (31) 3443-3157 ou 
Juliana Silva (coord. geral) (31) 3344-7843 e 8704-9378

UFPE (organização local): professores Camilo Soares (8863-2284) e 
Laécio Ricardo (3031-3677 e 9726-3670) 

Patrocínio | Parceria 
 
  

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