Sinopses e fichas técnicas dos filmes
 
 
Abreviações: 
D: direção; Ass: assistente; P: produção; R: roteiro; C: câmera; S: som; M: montagem; Mús: música; Mix: mixagem; Loc: locução; Int: interpretação
CNC: Centre National de la Cinématographie, atual Centre national du cinéma et de l’image animée; CNRS: Centre Nationale de la Recherche Scientifique; CNRSH: Centre Nigérien de Recherches en Sciences Humaines (Niamey); CFE: Comité du Film Ethnographique (Musée de l’Homme); EPHE: Ecole Pratique des Hautes Études; EM: Éditions Montparnasse; FP (Les Films de la Pléiade); IFAN: Institut Français de l’Afrique Noire; IRSH: Institut de recherches en sciences humaines (Niamey); ISH: Institut des Sciences Humaines du Mali (Bamako); MAE: Ministère des Affaires Étrangères et Européennes.
 
 
Programa 1  
Tateios iniciais e invenção de um estilo na África negra (Níger e Mali, 1948-51) 119’ 

» Os mágicos de Wanzerbé  Les magiciens de Wanzerbé 
Níger / França, 1948-9, p&b, 16mm, 32’16’’ | VO em francês legendada em português | Exibição em DVD 
D, R, C, Loc: Jean Rouch; Ass: Roger Rosfelder; P: CNC e Jean Rouch; Conselheiro científico: Marcel Griaule  
Filmado no vilarejo de Wanzerbé (Níger) em 1948, durante a Missão Etnográfica de setembro 1948 a março 1949. Montado e sonorizado em Paris, em 1949.  

Documentário sobre ritos e costumes dos habitantes do vilarejo de Wanzerbé, no Níger: o comércio no mercado com a presença dos Tuareg e dos Bella, as brincadeiras das crianças, as práticas divinatórias do velho mágico Mossi, danças de transe extático dos mágicos Sohantyé, sacrifício de animais na montanha (sob o olhar das crianças) para proteger o vilarejo. Rouch comenta tudo em over, de modo quase ininterrupto. 

» Iniciação à dança dos possuídos Initiation à la danse des possédés 
Níger, 1948, cor (Kodachrome), 16mm, 21’26’’ | VO em francês legendada em português | Exibição em DVD  
D, R, C, Loc: Jean Rouch; acompanhamento sonoro de Koroma; P: CNC e Jean Rouch  
Filmado no vilarejo de Firgoun, no arquipélago de Tillabery (Níger) em 1948, durante a Missão Etnográfica de setembro 1948 a março 1949. Montado e sonorizado em Paris, em 1949.  
Grand Prix do curta metragem no Festival do Filme Maldito de Biarritz, 1949. 

Zaaba, uma mulher Songhay da aldeia de Firgoun (Níger), que vinha sendo possuída com freqüência por dois espíritos, é iniciada às danças de possessão na cerimônia do Horendi, para que os espíritos só se encarnem em seu corpo quando solicitados pelos sacerdotes. O filme mostra as várias etapas da cerimônia de 7 dias, dando a ver os músicos, as dançarinas iniciadas, as possessões, as danças rituais, os espectadores e a saída da nova iniciada no fim do processo. Finda a cerimônia, Zaaba está curada, os visitantes e o violinista partem, a vida retoma seu curso normal em Firgoun. 

» Circuncisão Circoncision 
Mali, 1948-9, cor (Kodachrome), 16mm, 14’26’’ | versão com letreiro inicial em francês (legendado em português) e sem falas (a versão original trazia um comentário over dito por Rouch) | Exibição em DVD 
D, R, C: Jean Rouch; P: CNC e Jean Rouch;   
Filmado no vilarejo de Hombori (Mali) em 1948, durante a Missão Etnográfica de setembro 1948 a março 1949. Montado e sonorizado em Paris, em 1949.  
Prêmio Misguich de melhor reportagem do Festival de Curta-metragem de Paris, 1950. 

Trinta crianças Songhay da aldeia de Hombori, no Mali, passam pelo ritual da circuncisão, mostrado em suas várias etapas sucessivas, com precisão etnográfica e muito senso da beleza. 

» Cemitérios na falésia Cimetières dans la falaise 
Mali, 1950-51, cor (Kodachrome), 16mm, 18’04’’ | VO em francês legendada em português | Exibição em DVD  
D, P, R, C, Loc: Jean Rouch; Ass: Roger Rosfelder; Música original dos Dogon registradas in loco (cantos de Akunyo de Bara); Mix: Jean Rouch, no Museu do Homem; Int: Yebené, Akunyo de Bara e habitantes Dogon de Ireli.  
Filmado em Ireli, nas Falésias de Bandiagara (Mali), em 1950 durante a Missão Etnográfica do IFAN de julho 1950 a maio 1951. Montado e sonorizado em Paris em 1951.  

Primeiro filme de Rouch sobre os ritos funerários dos Dogon. Um homem morreu afogado em Ireli, em meio a uma tempestade, e seu corpo desapareceu na torrente. Yebené e Akunyo de Bara vão às margens do rio sacrificar um pintinho para pedirem perdão ao espírito da água, Nommo Ougourou, que lhes permite assim reencontrar o cadáver. Começa então um funeral tradicional, ao fim do qual o morto será guindado, ao som de cantos e prantos, até o cemitério na falésia, para repousar ao lado dos seus antepassados, dos quais vemos ossadas numa caverna. Fechada a gruta dos mortos, os planos finais mostram uma cascata e o fluxo do Rio, a vida sucedendo a morte.  

» Batalha no grande rio Battaille sur le grand fleuve 
Níger, 1950-51, cor (Kodachrome), 16mm, 32’55’’ | VO em francês legendada em português | Exibição em DVD 
D, R, C, Loc: Jean Rouch; Ass: Roger Rosfelder P: Jean Rouch, Roger Rosfelder; Mús: canções Sorko: «Kombine Katibaba», «Sambalaga» (Aïssata Gaoudelizé), «Air des chasseurs» (Yankori Beibatane), «Air des pagayeurs» (Mallam Amisou), «Berceuse» (Hawa de Niamey); Documentos sonoros registrados in loco; Adaptação sonora com o concurso do Museu do Homem; Gravação sonora: Films Pierre Boyer, Paris; Int: Damoure Zika, Illo Gaouldel, o chefe Oumarou e os pescadores Sorko de Firgoun, Ayorou e Koutougou 
Filmado, de janeiro a junho de 1951, em Firgoun, Ayourou e Koutougou (Níger), durante a Missão Etnográfica do IFAN (julho 1950 a maio 1951). Montado e sonorizado em Paris em 1951.  

O filme conta a história da grande batalha travada no rio Níger, de janeiro a junho de 1951, entre 21 pescadores Sorko e os hipopótamos de Yassane, Baria, Tamoulés e Labbezenga. Narrado em over por Rouch sobre um fundo de canções e vozes dos Sorko quase ininterruptas, o filme alia a precisão documentária a um sentido muito agudo da dramaticidade. Ele começa mostrando os preparativos dos pescadores (construção das pirogas e dos harpões, cerimônias de possessão para pedir aos espíritos sucesso na caça), antes de acompanhar sua partida para a caça. Esta será filmada de perto em suas diferentes etapas, com uma câmera na mão instável como as pirogas em que ela se posta. Veremos os pescadores matarem uma fêmea de 2 toneladas e capturarem depois um filhote vivo, com o qual o jovem Damouré Zika aparecerá brincando em cenas de muita beleza. Mas o velho hipopótamo selvagem, que os pescadores perseguem e atacam freneticamente, consegue fugir, apesar de todos os esforços do grupo. Os Sorko terão assim, no fim das contas, perdido a batalha. Primeira obra-prima de Rouch, esta epopéia fluvial é também uma resposta em grande estilo à deformação inflingida às imagens semelhantes de No país dos magos negros por uma montagem e uma sonorização que haviam, 4 anos antes, desvirtuado seus propósitos.   
 

Programa 2 
Incursões noutros países da África negra: Gana e Burkina Faso (1953-57) 100’ 

» Mammy Water Mammy Water 
Gana, 1953/66, cor (Kodachrome), 16mm, 18’ | VO em francês legendada em português | Exibição em DVD 
D, R, C, Loc: Jean Rouch; P: Pierre Braunberger (FP) e CNRS; M: Philippe Luzuy; S: Damouré Zika e Lam Ibrahima Dia; Mix: CFE 
Filmado em Accra e Shama (Gana) em 1953 ou 1954, durante a Missão etnográfica do IFAN de outubro 1953 a fevereiro 1955; primeira montagem em 1953; re-montagem e sonorização finalizadas em Paris, em 1966.  

Primeiro filme de Rouch no Gana, e o primeiro explorando a beleza das paisagens marinhas, Mammy Water dá a ver uma profusão de cores, pessoas e movimentos. Novamente, seu comentário over convive com músicas e burburinhos dos nativos. No início, crianças brincando na praia e pescadores Fanti em ação no mar, mas o mar não está para peixe. A insatisfação dos deuses da água tornou a pesca ineficaz após a morte de uma sacerdotisa Fanti. Para se reconciliar com eles, a população deve organizar uma festa religiosa em homenagem a Mammy Water, Deusa da água, que dá nome ao filme. Na festa, vamos vendo então procissões, libações, oferendas, regatas, orquestras de percussões e metais, sacrifícios de bois para a Deusa, tudo para reestabelecer a aliança com os espíritos da água e trazer de volta os bons tempos da pesca farta – o que de fato ocorre. Assim, o filme não só mostra as crenças religiosas dos Fanti como também acaba por validá-las, ao provar sua eficácia.  

» Os mestres loucos Les maîtres fous 
Gana, 1954-5, cor, 16mm (Kodachrome) ampliado para 35mm (Gévacolor), 27’51’’ | VO em francês legendada em português | Exibição em DVD 
D, R, C, Loc: Jean Rouch; P: Pierre Braunberger (FP); S: Damouré Zika e [Lam] Ibrahima Dia; M: Suzanne Baron; S: André Cotin; Int: os sacerdotes Mountyeba e Moukayla, Lam, membros da seita dos Haukas e habitantes de Accra (sobretudo trabalhadores imigrantes); 
Primeiro prêmio da seção etnográfica do Festival de Veneza de 1957 
Filmado em Accra (Gold Coast, atual Gana) e seus arredores, em 1954, durante a Missão etnográfica do CNRS e do IFAN de outubro 1953 a fevereiro 1955; montado e depois sonorizado em Paris em 1955.  
  
Primeiro filme de Rouch a causar um grande impacto nos meios cinematográficos, Os mestres loucos acompanha uma cerimônia de possessão anual dos membros da seita Hauka em Accra (na sua maioria trabalhadores imigrantes vindos do Níger). Depois de um breve preâmbulo em que Rouch mostra e comenta em over a presença dos imigrantes na paisagem urbana de Accra, o filme vai até seus arredores, na concessão do sacerdote Mountyeba, onde os participantes da cerimônia se reúnem para celebrá-la. Narrada por Rouch com alguma ênfase, esta cerimônia é o coração do filme, e ocupará todo o seu miolo. Após uma confissão pública, começa o ritual da possessão. Baba, tremores, respiração curta, sinais da chegada dos deuses da força, que vêm se encarnar no corpo dos participantes do rito. Um dado curiosíssimo deste rito confere ao filme uma inesperada dimensão política, que Rouch acentua ao inserir na montagem cenas de um desfile de autoridades coloniais (dentre as quais a própria rainha da Inglaterra): os espíritos daquele culto representam não os Deuses tradicionais, mas uma série de personagens emblemáticas do poder colonial laicizado: o capataz, o governador, o médico, a mulher do capitão, o general, o condutor da locomotiva, etc... A cerimônia atinge o ápice com o sacrifício de um cachorro que será comido pelos possuídos. No dia seguinte, vemo-los de volta a suas ocupações cotidianas, e o cineasta conclui, sempre em over, que aqueles ritos funcionam como um remédio capaz de lhes garantir a saúde psíquica, remédio que os europeus já não conheciam mais.  
  
» Baby Gana Baby Ghana 
Gana, 1957, cor, 16mm, 26’27’’ | VO em francês legendada em português | Exibição em DVD 
D, R, C: Jean Rouch; Int: Kwame N’Kruhma, Adam Alajah Kofoh, a duquesa de Kent, Sir Adam Clark (o último governador geral da Gold Coast) e a população de Accra.  
Filmado em Accra (Gana) em 1957, durante a Missão etnográfica de novembro 1956 a maio 1957; montado em Paris; sonorizado em estúdio.  

Documentário sobre a independência do Gana, vista pelos olhos de Adam Alahaj Kofoh, um jovem do país que conversa com Rouch em over (em francês e por vezes em inglês) enquanto passeia pelas ruas de Accra e se apresenta ao espectador.Vamos vendo a alegria nas ruas, a esperança e o orgulho dos ganenses recém-independentes, as festas oficiais, as danças, as autoridades, os jornalistas, os desfiles. Tudo palpita na festa da Independência. No filme, o uso do monólogo over do protagonista e a interação de sua voz com a de Rouch antecipam o dispositivo de Eu, um Negro.  

» Moro Naba Moro Naba 
Alto Volta (atual Burkina Faso), 1957, cor (Kodachrome), 16mm, 26’17’’ | VO em francês legendada em português | Exibição em DVD  
D, R, C, Loc: Jean Rouch; Ass: D. Zahan, Lam I. Dia e Zida Halidou; P: CFE / IFAN (Haute Volta); M: Jean Ravel et Roger Morillère; Música original dos tambourinaires de Moro Naba (gravações do SORAFOM e do IFAN);  
Filmado em Ouagadougou, Larallé e Ouorodoro (Alto Volta) em novembro de 1957; Montado em Paris  
Prêmio do Festival dos Povos de Florença, 1960 

Depois de um breve preâmbulo apresentando o território dos Mossi, o filme mostra as cerimônias do funeral do Moro Naba Saga, seu Rei-Sol desde 1942, que morre em novembro de 1957 no seu Palácio em Ouagadougou. No fim dos 12 dias de cerimônia, que o filme descreve e mostra de modo conciso, seu sucessor será escolhido, reestabelecendo assim a ordem entre os Mossi. 
 

Programa 3 
Primeiro ciclo de improvisações etnoficcionais I : migrações  89’ 

» Jaguar Jaguar 
Níger / Gana / França, 1954-67, cor (Kodachrome), 35mm, 88’32’’ | VO em francês (com comentários impovisados por Damouré Zika, Lam Ibrahima Dia, Illo Gaoudel, Amadou Koffo) legendada em português | Exibição em DVD 
D, R, C, Loc: Jean Rouch; P: Pierre Braunberger (FP) e CFE; S: Damouré Zika, M: Josée Matarasso, Liliane Korb, Jean-Pierre Lacam; Mús: Tallou Mouzourane (piano), Enos Amelodon (violão), Amisata Gaoudelize (canto), Yankori (violino), Ama (flauta), Djenne Molo Kari (harpa); Int: Damouré Zika, Lam Ibrahima Dia, Illo Gaoudel, Douma Besso, Amadou Koffo. 
Filmado em durante a Missão etnográfica de outubro 1953 a fevereiro 1955; montado e depois sonorizado em Paris em diferentes versões, a última das quais em 1967, quando foi lançado em sala.  

Filme capital, dos mais importantes de toda a obra de Rouch, Jaguar teve uma gênese longuíssima e conheceu várias versões, a última das quais de uma hora e meia (finalizada e lançada em 1967), que ficou mais conhecida e que continuou circulando. Os atores improvisaram tanto nas filmagens (iniciadas em 1954) quanto na pós-sincronização, realizada em estúdio anos mais tarde. Cheio de ressonâncias picarescas, o filme conta as aventuras do pastor Lam, do pescador Illo e do escrivão Damouré, que decidem deixar o Níger e ir à Accra em busca de fortuna. Eles partem à pé, passam por aldeias cuja população os surpreende, cruzam ilegalmente a fronteira e tomam três direções diferentes. Illo torna-se pescador com os Ewé e Lam comerciante de perfumes. Damouré chega à Accra e começa a trabalhar como servente para logo tornar-se um homem da moda, um “Jaguar”, que vive a vida da cidade: corridas, danças nas ruas, rituais dos Haukas, eleições de Kwame N’Krumah. Na cidade ele encontra Illo e juntos partem em busca de Lam que, com seu amigo Douma, abrira uma loja de muito sucesso no enorme mercado de Kumasi. Uma noite, eles decidem voltar para casa. Ao chegarem à sua aldeia, distribuem num dia o que ganharam em vários meses. Eles ficam sem nada, mas conquistam o respeito da sua comunidade. A vida recomeça.  
 

Programa 4 
Primeiro ciclo de improvisações etnoficcionais II : labirintos da identidade   71’  

» Eu, um negro Moi un noir (Treichville) 
Costa do Marfim, 1958-9, cor, 16mm (Kodachrome) ampliado para 35mm (Eastmancolor), 70’28’’ | VO em francês legendada em português, com comentários em over de Rouch e Oumarou Ganda | Exibição em DVD 
D, R, C, Loc: Jean Rouch; P: Pierre Braunberger (FP); S: André Lubin e Radio Abidjan; M: Marie-Josèphe Yoyotte, Catherine Dourgnon; Mús: Orquestras «La vie est belle» (Direction Yapi Joseph Degré), «Royale Goumbé», «Les deux jumeaux» e seus violões; canções «Modiba Cha Cha Cha» (Maryam Touré), «Abidjan Lagune» (N’Daye Yéro) e «Tondi Boumyé» (Amadou Demba); Int: Oumarou Ganda (Edward G. Robinson), Petit Touré (Eddie Constantine), Alassane Maiga (Tarzan), Amadou Demba (Elite), Seydou Guede (carteiro), Karidyo Daoudou (Petit Jules), Senhorita Gambi (Dorothy Lamour).  
Filmado em Treichville, Abidjan (Costa do Marfim) em 1958; montado no mesmo ano; lançado comercialmente em 12/3/1960.  
Prêmio Louis Delluc de melhor filme em 1958. Selecionado para o Festival de Locarno 1959. 

Depois de um breve preâmbulo em que Rouch comenta em over o fenômeno dos jovens imigrantes desempregados, qualifica-o de uma das doenças das cidades africanas e conta ter acompanhado por 6 meses imigrantes nigerianos em Treichville antes de propor a alguns deles interpretar seu próprio papel num filme, tem início o relato das aventuras de um jovem imigrante apelidado de Edward G. Robinson, a quem o cineasta passa a palavra. Robinson vai improvisar duas vezes a representação de uma semana de sua vida em Treichville. Primeiro, na imagem, perambulando pelo bairro pobre, indo ao trabalho de peão na construção civil, encontrando amigos, se divertindo na praia, num jogo de futebol ou numa luta de boxe, paquerando as moças em bares e boates, etc. Depois, no som, pós-sincronizando num estúdio da Rádio Abidjan seus diálogos e monólogos cheios de verve que atravessam de modo autônomo e quase ininterrupto o filme inteiro, numa radicalização de um procedimento de auto-fabulação já utilizado por Rouch em Baby Ghana. Montadas como uma crônica em blocos intitulados “a semana”, “sábado”, “domingo” e “segunda-feira”, as perambulações de Robinson permitem ao filme mostrar um apanhado rico e variado da vida dos pobres em Treichville, mas desencadeiam também notáveis figurações de seu imaginário (numa cena em que ele se vê como campeão de boxe, noutra em que se imagina sozinho com sua musa nua e numa última em que rememora momentos vividos no rio Níger e na Guerra da Indochina de que participou como soldado). Saudado com entusiasmo em duas notas breves e num artigo mais longo de Godard de 1959, o filme é uma das obras-primas de Rouch. 
 

Programa 5 
Primeiro ciclo de improvisações etnoficcionais III: interetnias  89’  

» A pirâmide humana La pyramide humaine 
Costa do Marfim / França, 1959-1960, cor, 16mm (Kodachrome) ampliado para 35mm (Eastmancolor), 88’28’’ | VO em francês legendada em português | Exibição em DVD 
D, R, Loc: Jean Rouch; P: Pierre Braunberger (FP); C: Louis Miaille, Roger Morilliere, Serge Ricci, Mario da Costa, Jean Rouch; Ass: Jacqueline Grigaut; S: Michel Fano, Guy Rophé; M: Marie Josèphe Yoyotte, Francine Grubert, Geneviève Bastid, Liliane Korb; Int: Nadine Ballot, Denise Dufour, Jacqueline, Dany, Elola, Alain, Raymond, Jean-Claude Dufour, Baka, Landry, Dominique, Nathalie, Jean Rouch (no seu próprio papel e no do professor do Liceu), a Royale Goumbé e os alunos de Première do Liceu de Abidjan.  
Filmado em Abidjan (outubro 1959 a junho 1960) e Paris (1960); montado em Paris em 1960-61, estreado em 19/4/1961.  

Experiência de psico-drama de Rouch com um um grupo de alunos do liceu de Abidjan sobre as relações raciais entre brancos e negros. Eles improvisam seus diálogos e devem inventar suas reações, vivendo aquela ficção real ao invés de meramente representá-la. Inicialmente reticentes e tacitamente segregados, eles decidem se frequentar e estabelecer verdadeira amizade, confrontando sem subterfúgios o problema do racismo interiorizado em cada um. Dali nascem também flertes, desejos, rivalidades e conflitos (sobretudo em torno de Nadine, dos quais vários colegas se enamoram ao mesmo tempo), um dos quais causando a morte de Alain, um dos estudantes, por afogamento no mar. Rouch interpreta seu próprio papel e também o do professor do Liceu. Ele pontua o filme com comentários over sobre a experiência, que é também uma experiência com a palavra, e não por acaso mobiliza uma série de textos literários de Baudelaire (“Le Beau Navire”), Rimbaud (“Enfance”), Molière (Tartuffe), Jules de Résseguier (“Sonnet”) e Eluard (“La pyramide humaine”, que empresta o título ao filme) misturados, numa polifonia de dicções e sotaques, com as falas dos atores. Estes também monologam ou dialogam em over por vezes, em falas pós-sincronizadas em estúdio. A ficção termina com o retorno de Nadine à França, e Rouch conclui dizendo que o mais importante não foi seu produto, mas seu processo: graças ao filme, aqueles jovens aprenderam a se conhecer e a se gostar, com suas qualidades e defeitos. A cena final, ecoando as do início, mostra a negra Denise (com o branco Alain) e a branca Nadine (com o negro Raymond) passeando em Paris, nos Champs Elysées. 
  

Programa 6 
Primeiro momento francês (1960)  86’ 

» Crônica de um verão Chronique d'un été 
França, 1960, p&b, 16mm, 85’44’’ | VO em francês legendada em português | Exibição em DVD 
D, R: Jean Rouch, Edgard Morin; P: Anatole Dauman e Philippe Lifhitz (Argos Films) / CFE; C: Roger Morillère, Raoul Coutard, Jean-Jacques Tarbès, Michel Brault; Iluminação: Moineau e Créteaux; S: Guy Rophe, Michel Fano e Barthélémy; . M: Jean Ravel, Néna Baratier, Françoise Colin; Int: Marceline Loridan, Marie-Lou Parolini, Angélo, Jean-Pierre, os operários Jacques e Jean, os estudantes Régis [Debray], Céline, Jean-Marc, Nadine [Ballot], Landry e Raymond, os empregados Jacques e Simone, os artistas Henri, Madi e Catherine, a cover-girl Sophie e os parisienses.  
Filmado em Paris e Saint Tropez em 1960; montado em Paris no mesmo ano.  
Prêmio da crítica internacional em Cannes 1961; prêmios nos festivais de Veneza e de Mannheim 1961;  

“Este filme não foi interpretado por atores, mas vivido por homens e mulheres que deram momentos de sua existência a uma experiência nova de cinema-verdade”. Com estas palavras que ele diz em over logo de início, Rouch abre este influente documentário filmado em som síncrono sobre o modo como as pessoas vivem em Paris: como elas se viram? São felizes? Marceline e Nadine entrevistam os transeuntes em Paris, Rouch e Morin elegem um grupo de estudantes, trabalhadores e artistas que eles seguem mais de perto e com quem conversam mais ao longo daquele verão de 1960. Cada um vai falando de si, mas também da França, de modo a que aflorem questões sobre a vida cotidiana, o trabalho, a solidão, o amor, a política, a guerra da Argélia, os traumas da Segunda Guerra (numa seqüência intensa, Marceline revela sua experiência de deportada num campo de concentração nazista de onde seus pais não voltaram, e logo depois profere um pungente monólogo interior dirigido a seu pai morto). As férias chegam, as fábricas ficam vazias, as praias ficam cheias. Vemos os cineastas acompanhando em Saint Tropez alguns dos personagens. No fim, todos os principais personagens assistem a uma projeção do filme e o discutem com franqueza. E os dois autores, Rouch e Morin, fazem um balanço da experiência, conversando sozinhos numa das salas do Museu do Homem antes de se despedirem numa avenida de Paris. 
 

Programa 7  
Ensaios de etnomusicologia com Gilbert Rouget (Benin e Mali, 1959-70)  73’  

» Saída das noviças em Sakpata Sortie de novices à Sakpata 
Benin, 1959-63, cor, 16mm, 16’05’’ | Filme sem falas, com raros letreiros em francês traduzidos em português | Exibição em DVD 
D, R: Gilbert Rouget e Jean Rouch; C: Jean Rouch; P: CFE / CNRS; M: Danièle Tessier; S: Gilbert Rouget. 
Filmado numa aldeia Vaudoun da região de Allada, ao sul do Dahomé (atual Benin), em 5, 8 e 9/2/1959; 
montado e finalizado em Paris em 1963.  

Lançando mão de um experimento de sincronização do som e da imagem, o filme mostra três momentos da iniciação de quatro noviças, os cavalos dos espíritos, em uma aldeia Vaudoun de Allada ao sul do Dahomé, atual Benin. A “danse de quête” das quatro noviças orientadas por uma velha ocupa os 6 minutos iniciais, as danças e os preparativos coletivos na véspera da saída são mostrados nos 3 minutos seguintes e finalmente a cerimônia da saída das noviças aparece nos 7 minutos finais, fechando este precioso documento etno-musicológico. 
  
» Baterias Dogon - elementos para um estudo dos ritmos Batteries Dogon, éléments pour une étude des rythmes 
Mali / França, 1964-6, cor, 16mm, 26’06’’ | Filme sem falas, exceto as do início, em que Gilbert Rouget diz os créditos iniciais em francês (com legendas em português) | Exibição em DVD 
D, R: Gilbert Rouget, Jean Rouch, Germaine Dieterlen; Ass: Moussa Hamidou; C: Jean Rouch; S: som direto síncrono (Stephane Koulewski); P: EPHE / CFE / CNRS; M: Philippe Luzuy 
Filmado nas Falésia de Bandiagara, no Mali, em 1964, durante a Missão Etnográfica de fevereiro a dezembro 1964; Montado em Paris em 1966. 

Documentário sóbrio e preciso sobre a aprendizagem pelos jovens Dogon das técnicas tradicionais de percussão ensinadas pelos mais velhos na falésia da Bandiagara. Vemo-los treinando em tambores de pedra e de madeira. Precedidos por letreiros que os identificam, vários ritmos são mostrados de perto, com som síncrono, sem comentário over. Nos quatro minutos finais, vemos e ouvimos o toque dos tambores durante as cerimônias funerárias de Dyamini Na.  

» Porto Novo: Balé da côrte das mulheres do rei Porto Novo: Ballet de cour des femmes du roi  
Benin, 1971/1996, cor, 16mm, 29’52’’ | VO em francês legendada em português | Exibição em DVD 
D, R: Gilbert Rouget; C: Jean Rouch; M: Philippe Luzuy; P: CFE / CNRS 
(documento complementar do livro de Gilbert Rouget, Un Roi africain et sa musique de cour: chants et danses du palais à Porto Novo sous le règne de Gbèfa (1948-1976). Paris, CNRS, 1996).  
Filmado em dezembro de 1969, num pátio interno do Palácio do Rei em Porto Novo, no Benin; montado originalmente em 1971 em Paris; remontado numa nova versão em 1996.  

Registro etnomusicológico de uma série de danças rituais das mulheres do Rei do Benin, no Palácio Real em Porto Novo. Na nova versão, remontada por Rouget em 1996, um breve preâmbulo com fotografias e letreiros precedem e situam uma cerimônia de entronização de uma nova Rainha chamada de “água do mar”. Na cerimônia, filmada com câmera na mão muito móvel, quatro danças rituais representando os quatro pontos cardeais são executadas por quatro dançarinas. Alguns inserts de fotos e letreiros fornecem informações sobre os instrumentos musicais e outros elementos de contexto. A cerimônia é precedida de uma dança preparatória filmada na véspera, e sucedida por duas danças profanas, filmadas em câmera lenta com som síncrono.  
 

Programa 8 
A caça ao leão, dos Gaos (Níger, 1957-1968) 98’  

» A caça ao leão com arco La chasse au lion à l’arc  
Níger / Mali / Burkina Faso, 1958-65, cor, 16mm, 77’25’’ | VO em francês legendada em português | Exibição em DVD 
D, R, C: Jean Rouch; Ass: Damouré Zika, Ibrahima Dia, Tallou Mouzourane; P: Pierre Braunberger (FP) e CFE; S: Idrissa Meiga, Moussa HAmidou; M: Josée Matarasso, Dov Hoenig; Int: Tahirou Koro, Wangari Moussa, Issiaka Moussa, Yeya Koro, Bellebia Hamadou, Ausseini Dembo, Sidiki Koro e o aprendiz Alii 
Filmado no Níger, na fronteira com o Mali e o Alto Volta (atual Burkina Faso), ao longo de sete missões etnográficas do CNRS e do IFAN, de janeiro de 1958 ao início de 1965. Montado entre maio e agosto de 1965, estreado em setembro do mesmo ano, no Festival de Veneza que o premiou com o Leão de Ouro.  

Como um tradicional Griot africano, Rouch conta a um grupo de crianças a aventura da caça ao leão pelos caçadores Gaos, filmada ao longo de vários anos. Sua história vai desde os longos e cuidadosos preparativos dos caçadores até as perigosas perseguições aos leões, e o que era para ser um documentário se torna uma maravilhosa narrativa poética, das mais bonitas de toda a obra rouchiana. Uma das 5 ou 6 obras-primas incontornáveis do seu cinema.  

» Um leão chamado Americano Un lion nommé l'américain 
Níger, 1968, cor, 16mm, 19’52’’ | versão sem comentário over (existe outra com ele, não utilizada pelas EM) | Exibição em DVD 
D, R, C: Jean Rouch; Ass: Damouré Zika, Lam I. Dia e Tallou Mouzourane; P: Pierre Braunberger (FP) e CFE; S: Moussa Hamidou; M: Jean-Pierre Lacam; Int: Os caçadores Tabirou, Wangari, Issaka, Ali, Bedari, Oussini, e também Damouré Zika, Lam I. Dia e Tallou Mouzourane.  
Filmado no Níger durante uma missão etnográfica do CNRS e do CNRSH em 1968; montado em Paris  

Espécie de adendo ou continuação da Caça ao leão com arco, numa versão porém bem menos completa, este filme mostra os mesmos caçadores Gaos indo em busca do leão conhecido como “Americano” que lhes escapara em 1965 e que eles, vendo o filme anterior que Rouch lhes projetou, decidiram capturar. Questão de honra. Desta vez, as imagens já começam pela caçada, “in media res”, dando a ver os caçadores numa caminhonete, chegando à savana, acompanhados de Damouré, Lam e Tallou. Vemo-los trocando o pneu furado, avançando a pé pela savana, encontrando pessoas conhecidas no caminho, preparando armadilhas, observando um leão capturado (mas é uma fêmea, não é o Americano), que o vilarejo inteiro aparece comendo na cena seguinte, antes da seqüência final com cantos rituais coletivos, a câmera recuando e se afastando do grupo para, num desfecho elegante freqüente em Rouch, enquadrar o céu. Na versão comentada por Rouch, ele contava que ouvira no rádio, em plena savana, a notícia da revolta estudantil de maio 68 e que, semanas depois de seu retorno a Paris, o leão Americano que escapara novamente aos Gaos durante as filmagens seria morto vergonhosamente por um fuzil. 
 

Programa 9 
O ciclo dos ritos de Yenendi, entre os Songhay do Níger (1951 e 1967-68) 72’  

» Yenendi, os homens que fazem chover Yenendi: les hommes qui font la pluie 
Níger, 1950-1, cor (Kodachrome), 16mm, 28’15’’ | VO em francês legendada em português | Exibição em DVD 
D, P, R, C, Loc: Jean Rouch; Ass: Pierre Cros e Roger Rosfelder; Mus: documentos sonorous gravados in loco em Acemaphone; Adaptação Sonora com ajuda do Museu do Homem (Paris); Gravação sonora: Films Pierre Boyer (Paris); Canção “Solibero”, por Aïssata, Gaoudelizé e o violinist Yankori; Int: Wadi (sacerdote dos espíritos), sua orquestra e os dançarinos de possessão de Simiri; Dongo (espírito do trovão) e seus irmãos Kyirey, Haoussakoy, Moussa e Sadyara (espírito do arco-íris). 
Filmado em Simiri (Níger) durante a Missão Etnográfica de julho 1950 a maio 1951. Montado e sonorizado em Paris em 1951.  

Primeiro filme de Rouch mostrando uma cerimônia anual do Yenendi (“refrescar”) através da qual os Songhay pedem aos deuses do céu as chuvas necessárias às boas colheitas. Narrado em over por Rouch, cuja voz convive com músicas e burburinhos nativos, o filme se constrói como uma prova cabal da eficácia deste rito de chuva. Ele se abre com planos da terra seca no mês de maio, resultante de 7 meses sem chuva, para em seguida mostrar os preparativos e o desenrolar das várias etapas da cerimônia (os músicos, as danças de possessão longamente mostradas, a negociação com os espíritos, a poção ritual derramada na terra, o sacrifício de animais) e culminar com os planos de um temporal prenunciado por sinais característicos. A sucessão destes três blocos principais tende a estabelecer uma relação causal inapelável entre a cerimônia e a chuva que se segue, de modo a endossar as crenças religiosas dos Songhay. 

» Boukoki Boukoki 
Níger, 1973, cor, 16mm, 7’57’’ | VO em francês legendada em português | Exibição em DVD 
D, R, C: Jean Rouch; P: CFE, CNRS, CNRSH; S: Hama Soumana; M: Danièle Tessier;  
Filmado em Niamey (Níger) em maio de 1973; montado em Paris no mesmo ano;  

Numa praça repleta de Boukoki, em Niamey, Rouch se mistura à multidão com sua câmera para mostrar cenas de transe de possessão visando pedir aos espíritos a chuva no sétimo mês da estação seca. Aberto por uma breve apresentação da situação proferida em over por Rouch e filmado com som direto em planos nem sempre longos mostrando os Haukas gritando tumultuosos em torno do Hampi, este é provavelmente o filme do cineasta com o espaço mais saturado.    

» Yenendi de Ganghel – A aldeia fulminada Yenendi de Ganghel – Le village foudroyé 
Níger / França, 1968, cor, 16mm, 35’49’’ | VO em francês legendada em português | Exibição em DVD 
D, R, C, Loc: Jean Rouch; P: CNRS / CFE 
Filmado em agosto de 1968 no vilarejo de Ganghel; montado em Paris 

Assim como já ocorrera em 1942 (num episódio que converteria o então engenheiro Jean Rouch à antropologia), um raio atinge em agosto de 1968 o vilarejo de Ganghel. Imediatamente, os sacerdotes Pam Sambo Zima e Daouda Sorko organizam uma cerimônia de possessão, o “Yenendi”, invocando Dongo (o espírito do trovão) e Kirey (espírito do raio) para acalmá-los. Comentado em over por Rouch, cuja voz se alterna com as falas e as divisas dos Songhay em sua língua (que o cineasta traduz por vezes, mas nunca legenda), o filme mostra com câmera na mão muito móvel a cerimônia de possessão, o transe dos cavalos e a tentativa de reconciliação com os espíritos, que fracassa. Dongo e Kirey não darão seu perdão aos habitantes de Ganghel, que não terão boa colheita. Num momento curiosíssimo, aos 17’50’’ de filme, em plena cerimônia de possessão, os próprios espíritos de Dongo e de Kirey se dirigem à câmera e saúdam Rouch, que filmava de perto os cavalos que eles possuíam. 
 

Programa 10 
O grande ciclo dos ritos do Sigui, entre os Dogon do Mali (1967-1974) 124’ 

» Sigui (1967-1973): Invenção da Palavra e da Morte Sigui (1967-1973): Invention de la Parole et de la Mort  
[Filme mais conhecido como Sigui síntese Sigui synthèse] 
Mali / França, 1981, cor, 16mm, 124’ | VO em francês legendada em português | Exibição em DVD 
D, R, C, Loc: Jean Rouch; S: Gilbert Rouget, Moussa Hamidou e Guindo Ibrahim; M: Danièle Tessier; P: CNRS, CFE; Ass. C: Lam I. Dia, Tallou Mouzourane e Amadigné Dolo; Pesquisa: Germaine Dieterlen, assistida por Ambara Dolo, Amadigné Dolo, Diamgouno Dolo e Youssouf Tata Cissé.  
Filmado em território Dogon, no Mali, basicamente de 1967 a 1974; montado e finalizado, nesta versão, em 1981, em Paris.  

Ensaio de síntese da série dos sete filmes de Rouch (1967-1974) sobre as complexas cerimônias do Sigui, que os Dogon do Mali organizam a cada 60 anos para celebrar e reviver a invenção do mundo, a doação da linguagem aos homens e a morte de seus ancestrais. Nesta nova montagem realizada sete anos após o fim da série, Rouch elabora com Germaine Dieterlen e diz em over, com sua entonação serena bem típica, um precioso comentário que atravessa o filme inteiro, além de inserir também, aqui e ali, alguns planos de outros de seus filmes sobre os Dogon. Menos discreta e menos tímida do que a série dos Sigui que ela reagencia (e na qual, com exceção do episódio de 1969, Rouch tendia a se eclipsar face à grandeza da cerimônia), esta síntese comentada resulta numa obra-prima, um monumento do cinema etnográfico.    
  

Programa 11 
A invenção do cine-transe junto aos Songhay no Níger (1971-74) 121’  

» Tourou et Bitti – Os tambores de outrora Tourou et Bitti – Les tambours d’avant 
Níger, 1971, cor, 16mm, 9’13’’ | VO em francês legendada em português | Exibição em DVD 
D, R, C, Loc: Jean Rouch; Ass: Lam I. Dia, Hama; S. Moussa Hamidou; M: Philippe Luzuy; P: CNRS, CFE; Int: Daouda Sido, Audié Kaina, Daouda Sorko, a velha Kumbaw, Tusinye Wasi, Sambou Albeidou.  
Filmado em Simiri (Níger) em 15/3/1971; montado em 1971 (e sonorizado, salvo engano, em 1972), em Paris 

Consensualmente reconhecido como uma das obras-primas de Rouch, o filme deveria mostrar um rito de possessão durante o qual os homens do vilarejo de Simiri pediriam aos Espíritos proteção para sua colheita. O transe esperado não acontece, Rouch decide não desligar sua câmera, e a presença da câmera sugestiona os músicos a continuarem a tocar, o que acaba desencadeando o transe. Tudo isto se passa num notável plano-sequência (precedido de um breve prólogo), comentado em over por Rouch, que dubla também em francês as falas em Songhay da cerimônia.  

» Tanda Singui Tanda Singui  
Níger, 1972, cor, 16mm, 29’39’’ | VO em francês legendada em português | Exibição em DVD 
D, R, C: Jean Rouch; P: CNRS / CFE; M: Danièle Tessier; Int: Daouda Sorko, dançarinos, músicos e cavalos Sorko.  
Filmado em Yantala (Níger) em 1972; montado em Paris no mesmo ano.  

Narrado em over por Rouch, em primeira pessoa e com muita sobriedade, o filme dá a ver uma cerimônia de possessão num terreiro (ou concessão) de Yantala consagrado a Dongo, o espírito do trovão. Rouch penetra ali com sua câmera e filma em longos planos sequência cheios de mobilidade as possessões que ali ocorrem (por Dongo, Zatao, Sarki), mostrando músicos, cavalos e sacerdotes, até que o filme se feche com seu movimento simétrico ao do início, a câmera agora recuando até sair do terreiro pela mesma porta pela qual entrara.  

» Horendi Horendi 
Níger, 1972, cor, 16mm, 69’20’’ | filme sem falas | Exibição em DVD  
D, R, C: Jean Rouch; P: CFE / CNRS / CNRSH; S: Hama Soumana; M: Danièle Tessier;  
Filmado nos arredores de Niamey (Níger) em 1972, e montado no mesmo ano em Paris.  

Ensaio sem comentário over sobre a gestualidade do transe em cerimônias do Horendi, a iniciação à dança de possessão, num terreiro situado nos arredores de Niamey. Por vezes, Rouch utiliza a câmera lenta de modo a estudar de perto os movimentos das dançarinas que se deixam possuir. Em que pese seu caráter rascunhal, de documento etnográfico bruto, este é, no registro do que ele chamou de “cine-transe”, um dos grandes filmes de Rouch dos anos 70.  

» Pam kuso kar “quebrar os potes de Pam” Pam kuso kar “briser les poteries de pam” 
Níger, 1974, cor, 16mm, 11’51’’ | VO em francês legendada em português | Exibição em DVD 
D, R, C: Jean Rouch; P: CFE / CNRS / CNRSH; S: Hama Soumana; M: Danièle Tessier 
Filmado em Niamey (Níger) em fevereiro de 1974; montado em Paris no mesmo ano.  

Em fevereiro de 1974, Pam Sambo Zima, o mais velho dos sacerdotes de possessão em Niamey, morreu. Rouch filma, num plano sequência notável, a cerimônia funerária que se seguiu e preparou a escolha de sua sucessora. Como de hábito, vemos sua câmera entrar inicialmente no terreiro (na concessão) em que a cerimônia ocorrerá, explorar seu espaço com grande mobilidade, dando a ver os músicos, o vaso Hampi, os participantes daquele rito, até recuar e sair dali no fim pela mesma porta pela qual entrara, numa saída plenamente simétrica com a entrada. Um epílogo mostra, com montagem mais entrecortada, algumas possessões sobrevindas noutro momento, enquanto Rouch anuncia a sucessora escolhida para o lugar de Pam Sambo Zima.  
 

Programa 12 
Níger – França, ida e volta, ou a etno-ficção ao avesso (1968-70) 92’  

» Pouco a pouco Petit à Petit  (versão curta) 
Níger / França, 1968-70, cor (Eastmancolor), 16mm (ampliado para 35mm nesta versão curta), 92' | VO em francês legendada em português | Exibição em DVD 
D, R, C: Jean Rouch; Ass: Philippe Luzuy; P: Pierre Braunberger (FP); M: Josée Matarasso e Dominique Villain; S: Moussa Hamidou; Mus: «Petit à Petit» (Enos Amelolon), «Jerk and Slow» (Alan Helly) e «Niger si nera» (Amicale de Niamey); Int: Damouré Zika, Lam Ibrahima Dia, Illo Gaoudel, Safi Faye, Ariane Brunneton, Philippe Luzuy (o mendigo), Tallou Mouzourane, Mustapha Alassane, Marie, Idrissa Maiga, Michel Delahaye, Sylvie Pierre. 
Filmado em Paris, Níger, Costa do Marfim, Itália, Canadá, Estados Unidos, Suíça em 1968-9; montado em 1970, mostrado no Festival de Veneza em setembro de 1970 e estreado em Paris em 10/9/1971.  

Continuação de Jaguar com alguns dos mesmos atores (Damouré, Lam, Illo Gaoudel), Pouco a pouco foi igualmente improvisado e gerou também duas versões, esta mais curta de 92’ que circulou em 35mm, outra mais longa de três partes e quatro horas ao todo, que permaneceu em 16mm e nunca chegou a ser explorada comercialmente, mas que marcou muito alguns cineastas (Rivette, Rohmer, Straub) nas projeções organizadas por Rouch. No registro da comédia e em tom ameno, mas recebendo também os influxos de maio de 1968, o filme traz alguns dos momentos mais claramentes anti-capitalistas de todo o cinema de Rouch. Embora a versão longa (sua preferida) traga planos mais longos, uma montagem mais dilatada e algumas sequências ausentes nesta versão curta, a história é basicamente a mesma nas duas: em Ayorou, junto com Lam e Illo, Damouré dirige uma empresa de importação e exportação chamada “Pouco a Pouco”. Ao decidir erguer um edifício, ele vai a Paris ver como os franceses vivem em casas de vários andares. Na cidade, numa aventura de etnografia ao avesso, ele descobre as curiosas maneiras de viver e pensar dos parisienses, que descreve em cartões postais enviados regularmente a seus companheiros, até que estes, apreensivos com sua demora, enviam Lam à sua busca. Lam chega em Paris e vai se aclimatando, sob a orientação de Damouré. Devidamente aclimatados, os dois viajam pela Europa e pela América do Norte. De volta a Paris, compram um conversível Bugatti e conhecem a negra Safi e a branca Ariane, com as quais passeiam, fazem festas, flertam e se divertem. Passeando à beira do Sena, eles ficam conhecendo também um mendigo canadense chamado Philippe, que se junta às suas perambulações e aventuras. O grupo decide voltar à África, para construir o prédio. No entanto, as duas mulheres e Philippe não se adaptam à nova vida e resolvem partir. Damouré, Lam e Illo retiram-se para uma cabana às margens do rio e desistem do sonho capitalista.  
 

Programa 13 
Ritos funerários dos Dogon, no Mali (1973-74)  78’  

» O enterro do Hogon L’enterrement du Hogon  
Mali / França, 1972-3, cor, 16mm, 17’45’’ | filme sem falas e sem créditos | Exibição em DVD 
D, R, C: Jean Rouch; P: CNRS / CFE.   
Filmado em Sanga (Mali) em 1972; montado em Paris em 1973.  

Documentário sobre o enterro ritual do Hogon de Sanga, principal sacerdote da comunidade dos Ogol, que morrera na noite da véspera. À diferença do filme ligeiramente anterior sobre os Funerais em Bongo: o velho Anaï (1972), este aqui fica menos completo, mais próximo de um rascunho etnográfico. Ele não traz nenhum comentário over de Rouch, e parece registrar menos aspectos da cerimônia (concentrando-se em cenas de multidão na praça e no cortejo que conduz o manequim pela cidade), mas nos deixa numa relação mais imediata com as imagens e os sons captados. Compreendemos menos os detalhes e o sentido do que se passa, mas tendemos a prestar mais atenção aos elementos sensíveis do rito. Se a estratégia dos dois filmes é simetricamente oposta, sua iconografia porém parece basicamente a mesma e os movimentos da multidão na praça em ambos se assemelham. Aberto pelo rosto choroso de uma velha ao som de vozes e gritos, este segundo filme nos mostra cenas de tiros rituais, percussões, gritos, longas simulações de combates na praça, danças e a procissão pela cidade da multidão carregando o cadáver para conduzi-lo à necrópole (que não chegamos a ver). A câmera tende a mostrar aquela praça repleta e movimentada de longe, preferindo ficar um pouco à parte, sem mergulhar no tumulto coletivo. 

» O Dama de Ambara: Encantar a morte Le Dama d’Ambara: Enchanter la mort 
Mali, 1974 / 1980 ou 1981, cor, 16mm, 59’36’’ | VO em francês legendada em português | Exibição em DVD 
D, R: Jean Rouch, Germaine Dieterlen; Textos de Marcel Griaule (Les Masques Dogons); Ass: Amadigne Dolo, Pangale Dolo, Lam Ibrahima Dia, Tallou Mouzourane; P: CNRS, CFE, EPHE 5e Section (LAV), ISH; C: Jean Rouch; S: Ibrahim Gyindo; M: Danièle Tessier 

Em 1972, Ambara Dolo morre. O filme segue os três principais dias de sua cerimônia funerária, dando a ver um extraordinário espetáculo de danças e máscaras tradicionais, ao som de um comentário de Rouch baseado em textos (sobretudo Les Masques Dogon) de seu mestre Marcel Griaule. Uma das obras-primas africanas de Rouch.  
 

Programa 14 
Improvisações para-publicitárias e etno-ficcionais no Níger (1973-74) 112’  

» VW malandro VW Voyou 
Níger, 1973, cor, 16mm, 19’ | VO em francês legendada em português | Exibição em DVD 
D, R, C: Jean Rouch; Int: Damouré Zika, Lam Ibrahima Dia, Tallou Mouzourane e um fusca VW vermelho. 
Filmado em Niamey e seus arredores em 1973; montado no mesmo ano em Paris 

Filme publicitário divertido e heterodoxo salientando as mil e uma utilidades do fusca (VW) para os habitantes da África, mostrando-o em diversas paisagens (urbanas e rurais) do Níger, lançando mão de várias gags, mobilizando os amigos de sempre Damouré, Lam e Tallou, e reservando para o fim um acidente grave (o Fusca dirigido por Damouré despencando de um despenhadeiro) anulado por uma trucagem rara no cinema de Rouch.  
 
» Cocorico! Monsieur poulet Cocorico! Monsieur poulet 
Níger, 1974, cor, 16mm, 93’10’’ | VO em francês legendada em português | Exibição em DVD 
D, R: Damouré Zika, Lam Ibrahima Dia e Jean Rouch (DaLaRou); P: CNRS, CFE; C: Jean Rouch; S: Moussa Hamidou, Hama Soumana; M: Christine Lefort; Mús: Tallou Mouzourane; Int: Damouré Zika, Lam Ibrahima Dia, Tallou Mouzourane, Claudine, Baba Nore. 

Ficção, no registro da comédia, inteiramente improvisada sobre as aventuras de Lam, Damouré e Tallou percorrendo de caminhonete a savana do Níger em busca de frangos para seu comércio. A viagem está pontuada de acontecimentos insólitos, como os encontros com uma mulher diabólica, a visita de um burocrata francês de fala empolada a um vilarejo perdido na savana e as travessias do rio Níger pelo carro, que é um dos protagonistas da história. Um dos grandes filmes de Rouch nos anos 70, Cocorico exala a liberdade e o prazer de filmar do cineasta e de seus parceiros.  
 

Programa 15 
Viagens, encontros e visitas (1977-87) 89’  

» Ispahan: Carta persa - A mesquita do Xá em Ispahan Ispahan: Lettre persane – La Mosquée du Shah 
Irã, 1977, cor, 35mm, 39’45’’ | VO em francês legendada em português | Exibição em DVD 
D, R, C: Jean Rouch; Ass. D: Hossein Taheridoust; P: CFE / CNRS; Int: Farrokh Gaffary e Jean Rouch (atrás da câmera, conversando em off).  
Filmado em um só dia em Ispahan (Irã), em 1977; montado no mesmo ano em Paris.  

Em visita à mesquita do xá em Ispahan, Rouch conversa de modo descontraído com o cineasta e produtor iraniano Farrokh Gaffary sobre a arquitetura daquele monumento e as relações ambíguas do Islã com o cinema, o sexo e a morte. 

» Makwayela Makwayela 
Moçambique / França / Canadá, 1977, cor, 16mm, 18’05’’ | VO em português sem legendas nem créditos | Exibição em DVD  
D: Jean Rouch e Jacques d’Arthuys; R, C: Jean Rouch; Int: trabalhadores da Companhia Vidreira de Moçambique.  
Filmado em Maputo, na Companhia Vidreira de Moçambique, em 1977; montado no mesmo ano.  

Resultado de uma oficina com um grupo de estudantes de Moçambique, este filme consiste numa visita de Rouch e sua pequena equipe à Companhia Vidreira de Moçambique. Ali, depois de uma cena breve dando a ver a fabricação de garrafas, o filme mostra, com som direto, uma dezena de trabalhadores cantando e dançando no pátio uma canção anti-imperialista cuja origem e cujo sentido eles explicarão em seguida ao cineasta: ela nasceu na dura experiência vivida por eles quando trabalhavam em minas de ouro na África do Sul, sob o regime do Apartheid. Findo o relato, eles se despedem muito cordialmente da equipe de filmagem (como sói acontecer nos desfechos dos filmes de Rouch) e se encaminham de volta para a fábrica.  

» Bateau-givre Bateau-givre  
Suécia, 1987, cor, 35mm, 31’06’’ | VO com raras falas (não legendadas) em sueco ou inglês | Exibição em DVD 
D, R, C: Jean Rouch; S e MS: Patrick Genet; M: Jean Ravel; Mix: Michel Barlier; P: MAE / Svenska Filminstitutet. Int: tripulação do navio Frej.  
Filmado na Suécia em 1987, e montado em Paris no mesmo ano.  

Primeiro dos três episódios do filme coletivo Brise-glace, dirigidos por Rouch, Titte Törnroth e Raoul Ruiz, respectivamente, Bateau-givre parece à primeira vista um filme menor e atípico de Rouch. Rodado num navio quebra-gelo sueco chamado Frej, sem nenhum comentário over e com raras falas em sueco ou inglês (nunca traduzidas) da tripulação, ele vai mostrando sem pressa e sem ênfase as atividades cotidianas naquele navio encarregado de desencalhar outros barcos bloqueados pelo gelo. Nada acusa, na sua iconografia glacial, na sua banda sonora calcada numa mixagem de ruídos sutis e no seu estilo de decupagem racional (impessoal?) como a rotina daquele navio, a presença ou o trabalho do cineasta, que não vemos nem ouvimos em nenhum momento. O projeto lhe permitiu, em todo caso, visitar um universo que devia fasciná-lo, pois seu pai era navegador e lhe transmitiu desde cedo o amor pelo mar.  
 

Programa 16 
Em torno de Jean Rouch: Rouch e os Dogon  (1984-2002)   103’   

» Nas pegadas da raposa pálida - Pesquisas no país Dogon 1931-1983 Sur les traces du renard pâle - Recherches en pays dogon 1931-1983 
Mali/Bélgica, 1984, cor e p/b, 16mm, 48’21’’ | VO em francês legendada em português | Exibição em DVD 
D, R: Luc de Heusch; P: Centre de l’Audio-visuel de Bruxelles / RTBF / CNRS / FOBRA; F: Michel Baudour; S: Jean-Paul Ramdonck; Loc: Philippe Geluck, Nicola Donato e Jean Rouch; Música Dogon gravada por Geneviève e Blaise Calame, François Didio, Moussa Hamidou, Gyindo Ibrahim e Gilbert Rouget; M: Denise Vindevogel; Mix: Gérard Rousseau; Int: Henri Storck, Geneviève Calame-Griaule, Jean Rouch, Germaine Dieterlen, Amadigné Dolo, Dyamgounou Dolo e Koguem Dolo.  
Filmado em Paris e no Mali em 1983; montado em Bruxelas em 1984 

Dedicado “à memória de Marcel Griaule (1898-1956)” e filmado pelo eminente antropólogo e cineasta Luc de Heusch, este documentário conjuga imagens de arquivo (fotos e filmes de Griaule e de Rouch) com outras produzidas em território Dogon e com depoimentos filmados em Paris, para evocar as pesquisas dos africanistas franceses sobre os Dogon, concentrando-se no tripé formado por Marcel Griaule, Germaine Dieterlen e Jean Rouch. 

» Jean Rouch e Germaine Dieterlen, “o futuro da lembrança” Jean Rouch et Germaine Dieterlen – L’avenir du souvenir 
Mali / França, 2004, cor e p/b, 54’ | VO em francês legendada em português | Exibição em DVD 
D, R, C: Philippe Costantini; Loc: Philippe Costantini e Dahirou Togo; P: AMIP / CNRS / France 5; S e Mix: Jean-Pierre Fénié; M: Catherine Catella; Int: Jean Rouch, Jocelyne Rouch, Amadigné Dolo, Pangalé Ambara Dolo, Panganidiou Diamgouno Dolo, Inogo Dolo e Catherine Dieterlen. 

Em dezembro de 2003 Jean Rouch retorna ao Mali, nas terras dos Dogon. Desde a morte de sua amiga Germaine Dieterlen, com quem filmou as cerimônias dos Sigui e os ritos funerários dos Dogon (e que aparece em inserts de filmes e fotos), Rouch esperava vê-la homenageada num destes funerais tradicionais, como aquele reservado ao mestre de ambos, Marcel Griaule, pioneiro dos estudos etnográficos sobre aquela etnia. Rouch reencontra os filhos dos informantes com quem ele e Germaine trabalharam por anos a fio em filmes e pesquisas. Eles evocam Griaule e Germaine, que acaba recebendo a cerimônia tradicional e sendo elevada à categoria de ancestral, segundo o desejo de Rouch.  
 

Programa 17 
Rouch e sua vocação para a ficção 73' 

» Mosso mosso - Jean Rouch como se... Mosso Mosso, Jean Rouch comme si... 
França/Níger, 1998, cor, 73’, 16mm | VO em francês legendada em português | Exibição em DVD 
D, R:  Jean-André Fieschi. C: Jean-André Fieschi e Gilberto Azevedo; S: Laurent Malan e Moussa Hamidou; M: Danielle Anezin; Mix: Anne Louis e Pascal Rousselle; Mus: Laurent Malan, Jocelyn Poulin e Didier Pougheon; Int: Jean Rouch, Damouré Zika, Tallou Mouzourane. 
Filmado em Paris e no Níger em 1997; montado em Paris em 1998  

Encomendado pela prestigiosa série francesa “Cinéma de notre temps”, este documentário define a regra ficcional do “como se” como o princípio fundamental do trabalho de Rouch, e a mostra em ação, saindo de Paris e partindo ao Níger para acompanhar ali as filmagens imaginárias de um filme, “La Vache Merveilleuse”, que Rouch fingia fazer com seus amigos e cúmplices de sempre, Damouré e Tallou, mas sem Lam, já falecido. É um dos dois ou três melhores filmes já feitos sobre Rouch.  
 

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